28 de ago. de 2011

Salve, Ó Cruz



Dom Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora, MG



No próximo dia 14, a Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz, cuja instituição relembra o episódio de Santa Helena, mãe do imperador romano, Constantino, que, após três séculos de perseguição, deu aos cristãos o direito de celebrar sua fé. Santa Helena teria trazido a cruz encontrada em Jerusalém e, em Roma, a introduzido solenemente nas basílicas constantinianas.



Tomada pelos Persas, no século VII, foi reconquistada pelo imperador Heráclio em 629, que a re-introduziu solenemente na cidade eterna.



Santo Agostinho, já celebrando o cristianismo liberto, exaltava a cruz que brilhava nas coroas reais e encimava as construções e colinas das cidades.



A cruz é realmente um sinal de contradição, como o próprio Cristo, conforme predissera Simeão ao tomá-lo nos braços no templo de Jerusalém. É sinal de vida e ressurreição para os que crêem e de morte para quem nele não reconhece o Filho de Deus.



E para nós, o que é a cruz?



Paulo, escrevendo aos cristãos da Galácia, (Gal. 6,14) nos dá o sentido da cruz: “Eu, porém, não quero saber de gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”



A cruz representa o momento em que pela morte de Cristo como Homem, submisso à condição de toda a criatura, econhecem te para quem nruz que brilhava nas coroas reais e encimava as construç nele e com ele morria o velho Adão para renascer na nova criatura, no novo Homem, no seu corpo espiritual glorificado, na plenitude da imortalidade, na união íntima com Deus.



Na cruz, pelas águas redentoras do batismo, todos os que recebemos o Filho de Deus, na sua morte também morremos para a carne e, na esperança, já temos a plena participação em Cristo. Morremospara o mundo, para o pecado. Vivemos a plenitude da graça: “o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.



Do instrumento da morte, renasce a árvore da vida do paraíso: “Salve o cruz, árvore entre todas nobilíssima, na floresta não há nenhuma igual na beleza dos ramos, das flores e dos frutos “(canto litúrgico).



A cruz é motivo de nossa glória. É nosso sinal que nos identifica com o Redentor. Nela não estacionamos. É a porta pela qual passamos como o Homem Jesus, para fazermos parte da Humanidade redimida.



Quando depois da confissão de Pedro, Jesus expôs aos discípulos a caminhada para Jerusalém, onde deveria padecer e morrer para ser glorificado e resgatar o mundo do pecado e da morte, também nos indicou o mesmo caminho se quisermos ganhar a vida(Cf. Mt. 16, 21-28; Mc. 8, 31-38; Lc.9,21-27).



E na semana da sua Paixão, ao entrar na Cidade Santa, afirma que, na cruz, em que será exaltado, o mundo já foi julgado e o príncipe deste mundo lançado fora, e a si todo o universo atraído (cf. Jo. 12, 31-33), pois nele consta todo o universo (cf. Col. 1,17), nele todas as coisas se completam (cf. Ef. 4,9). Cristo é tudo em todos (cf. Col.3,11). Ele renova todas a coisas (cf. Apoc. 21,5).



Assim, quando este sinal aparecer no céu, quando o Senhor vier a julgar, os servos da cruz, que conformaram sua vida com o Crucificado acorrerão com grande confiança (da Imitação de Cristo II, cap.12) porque por Ele se deixaram atrair e viveram seu batismo, vencendo a carne e, na esperança, já têm a vida do espírito. Já são a nova criatura.



Resgatados por Cristo na cruz, tenhamos grande respeito por este sinal. Com ele, como discípulos e missionários, vamos anunciar a salvação e mostrar ao mundo o grande amor com que somos amados apesar de pecadores, porque que nela o Filho de Deus se entregou à morte por nós, ensinando-nos a viver no amor aos irmãos, e assim construir o Reino de Deus.

Crises no matrimônio e fidelidade conjugal





Este ideal de fidelidade conjugal nunca foi fácil (adultério é uma palavra que ressoa sinistramente até na Bíblia); mas hoje a cultura permissiva e hedonista na qual vivemos o tornou imensamente mais difícil. A alarmante crise que a instituição do matrimônio atravessa em nossa sociedade está à vista de todos. Legislações civis, como a do governo espanhol, que permitem (e indiretamente, de tal forma, estimulam!) iniciar os trâmites de divórcio apenas poucos meses depois de vida em comum. Palavras como: «estou farto desta vida», «se é assim, cada um por si!», «vou embora», já se pronunciam entre cônjuges diante da primeira dificuldade (dito seja de passagem: creio que um cônjuge cristão deveria acusar-se em confissão do simples fato de ter pronunciado uma destas palavras, porque o simples fato de dizer é uma ofensa à unidade e constitui um perigoso precedente psicológico).

O matrimônio sofre nisso a mentalidade comum do «usar e jogar fora». Se um aparelho ou uma ferramenta sofre algum dano ou uma pequena avaria, não se pensa em repará-lo (desapareceram já aqueles que tinham estes ofícios), pensa-se só em substituir. Aplicada ao matrimônio, esta mentalidade resulta mortífera. O que se pode fazer para conter esta tendência, causa de tanto mal para a sociedade e de tanta tristeza para os filhos? Tenho uma sugestão: redescobrir a arte do remendo! Substituir a mentalidade do «usar e jogar fora» pela do «usar e remendar». Quase ninguém faz remendos mais. Mas se não se fazem já na roupa, deve-se praticar esta arte do remendo no matrimônio. Remendar os desgarrões. E remendá-los rapidamente.São Paulo dava ótimos conselhos ao respeito: «Se vos irais, não pequeis; não se ponha o sol enquanto estejais irados, nem deis ocasião ao Diabo», «suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente se algum tem queixa contra outro», «ajudai-vos mutuamente a levar vossas cargas» (Ef 4, 26-27; Col 3, 13; Ga 6, 2). O importante que se deve entender é que neste processo de desgarrões e recosidos, de crises e superações, o matrimônio não se gasta, mas se afina e melhora. Percebo uma analogia entre o processo que leva a um matrimônio exitoso e o que leva à santidade. Em seu caminho rumo à perfeição, nenhum impulso, tem aridez estão vazios, fazem tudo à força de vontade e com fadiga. Depois desta, chega a «noite escura do espírito», na qual não entra em crise só o sentimento, mas também a inteligência e a vontade. Chega-se a duvidar de que se esteja no caminho adequado, se é que acaso não foi tudo um erro, escuridão completa, tentações sem fim. Segue-se adiante só por fé.

Então tudo se acaba? Ao contrário! Tudo isto não era senão purificação. Depois de passar por estas crises, os santos percebem quão mais profundo e mais desinteressado é agora seu amor a Deus, com relação ao do começo. A muitos casais não será custoso reconhecer nisso sua própria experiência. Também terão atravessado freqüentemente, em seu matrimônio, a noite dos sentidos, na qual falta todo êxtase daqueles, e se alguma vez houve, é só uma lembrança do passado. Alguns conhecem também a noite do espírito, o estado em que entra em crise até a opção de fundo e parece que não se tem já nada em comum.

Se com boa vontade e a ajuda de alguém se conseguem superar estas crises, percebe-se até que ponto o impulso e o entusiasmo dos primeiros dias era pouca coisa, com relação ao amor estável e a comunhão amadurecidos nos anos. Se primeiro o esposo e a esposa se amavam pela satisfação que isso lhes procurava, hoje talvez se amam um pouco mais com um amor de ternura, livre de egoísmo e capaz de compaixão; amam-se pelas coisas que passaram e sofreram juntos.

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