17 de fev. de 2013

Igreja recebe com fé renúncia do Papa, diz Dom Murilo



Em entrevista à Canção Nova, Dom Murilo Krieger, Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, fala como a Igreja recebe a notícia da apresentação da renúncia do Papa Bento XVI. O Arcebispo conta ainda a impressão que teve sobre sua saúde ao encontrá-lo há um mês em Roma, destaca que Bento XVI tomou essa decisão em total e sã consciência e orienta os fiéis sobre a postura que devem ter agora.


- Como a Igreja recebe a notícia da renúncia do Papa Bento XVI?

Dom Murilo Krieger - Está recebendo com o mesmo espírito de fé com que Bento XVI tomou essa decisão, afinal a Igreja é do Pastor supremo Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele que é responsável pela Igreja, Ele que chamou Bento XVI para ser sucessor de Pedro e certamente foi diante d'Ele que Bento XVI tomou uma decisão que não deve ter sido fácil para ele. Mas ele mesmo disse que não basta o vigor espiritual, há necessidade do vigor do corpo e ele disse ter notado que esse vigor tem diminuido nos últimos meses de tal modo que tem que reconhecer sua incapacidade para administrar bem o ministério que lhe foi confiado. Eu vejo no gesto do Papa um gesto de humildade, de reconhecimento da limitação e fé porque a Igreja é de Jesus Cristo e ao mesmo tempo de amor. Para mim, particularmente é muito doloroso porque tenho um carinho imenso por ele e estive com ele, cumprimentei-o, praticamente um mês atrás, dia 9 de janeiro, no final de uma Audiência Geral.



- Nesta ocasião como estava a saúde do Papa?

Dom Murilo Krieger - Estava melhor do que no Natal. Ele entrou andando normalmente e falou com aquela voz de um homem que tem 85 anos, mas estava bem, nas fotos tiradas aquele dia vejo o rosto dele bem. Ele perguntou sobre Salvador, fez perguntas que me mostrou que ele estava bem, estava bem consciente, agora a decisão surpreendeu até os assessores mais próximos. Ele deve ter pensado: " olha, eu tenho que renunciar numa hora em que eu tenho condições, que a Igreja pode com tranquilidade escolher o sucessor de Pedro" e eu vejo assim, se ele fez isso, não foi o primeiro, foi o quarto Papa a renunciar o cargo, fez isso em espírito de fé, ele deve ter pesado tudo, mas o que pesou mais mesmo no final, foi como ele disse, essa sua limitação.

Ele está consciente da gravidade desse ato, está em plena liberdade, por isso cabe-nos acolher a sua renúncia, mas acima de tudo, atender ao que ele pede no final: que peçamos a Maria Santíssima que assista com a sua bondade materna os padres e cardeais na eleição do Sumo Pontífice, então é o que nos cabe fazer. Por um lado agradecer a Deus pelo Papa que tivemos, que vai marcar a vida da Igreja, seus textos serão lidos, meditados daqui 200 anos, 500 anos, serão daqueles textos clássicos da Igreja. Seus livors sobre Jesus Cristo são os textos mais belos depois do Evangelho que eu vi sobre a pessoa do Senhor Jesus e essa herança que ele nos deixa é que a Igreja seja conduzida por alguém que tenha boa capacidade física.



- O senhor acredita que o Papa tenha alguma doença degenerativa? Tem surgido muitas especulações na imprensa.

Dom Murilo Krieger - Agora vem mil especulações, o que a gente nota é o seguinte, ele agora está com plena consciência, plena liberdade, o tempo que vai nos dizer, mas eu penso que acima de tudo, ele deve sentir o peso, eu imagino, a gente olha para nossa sociedade, as pessoas com 85 anos estão assim ... numa cadeira de rodas, são poucas, pouquíssimas que tem condições de trabalhar e ter a responsabilidade da Igreja no mundo todo, todo dia receber representantes de países, bispos, cada um levando problemas, realmente ele diz que é necessária uma força especial física que não está tendo. Ele sentiu que não tinha mais condições de acompanhar tudo e devia se sentir mal por isso.



- É importante ressaltar que o Papa tomou essa decisão em total e sã consciência não é verdade?

Dom Murilo Krieger - É isso, ele também deve ter visto a situação, ele acompanhou de perto a situação de João Paulo II que sofreu muito e depois no fim foi uma benção tudo, mas a gente sabe que mais uma situação daquela seria muito pesada para Igreja, ele pensou "eu vou tomar ] a decisão] enquanto eu tiver consciência de dizer que não posso mais governar a Igreja".



- O Povo de Deus, os fiéis como vamos nos comportar daqui pra frente até a eleição do novo Papa?

Dom Murilo Krieger - Começa agora um grande cenáculo com Maria. Esse foi o convite que o Papa fez, o último pedido dele, que peçamos a Maria sua mãe Santíssima que assista com sua bondade materna os padres cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Com Maria, como fez a primeira comunidade lá em Atos 3, 15. Com Maria mãe de Jesus, vamos estar em oração, pedindo que seja escolhido aquele que está no coração do Bom Pastor e que o Senhor abençoe muito Bento XVI, tudo aquilo que ele fez, todo sofrimento que suportou nesses 8 anos de pontificado que o Senhor lhe dê muita força e sabedoria.

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